segunda-feira, 29 de abril de 2013

Finitude

Torres não faz mas parte do caminho, nesta maquete viva ele esta morto, e deixa saudades a quem o queria bem, mas a morte é um rito de passagem e finitude de uma etapa, estar morto é declarar que algo foi concluído. Como se sabe, todos neste caminho irão morrer, alguns antes, outros depois, alguns até prematuramente, mas todos sabemos disso, e sabemos também, que aos que ficam restam as boas lembranças e a certeza de que tiveram no caminho a experiência a qual estavam destinados e prontos a viver. Não sinto dor, tristeza ou pena pela partida de Torres, apenas a certeza de que vivemos o que podíamos aqui e nos encontraremos, ou não, nesta ou em uma outra vida.

O medo do fim é um sentimento que aprisiona nossos coração em barras de dor e o pior é que em muitos de nós esse medo é do fim do próximo, não do nosso, porém se entendemos a morte como a conclusão de uma etapa, essa dor se vai, eu espero morrer em Santiago, lá eu encerro esse projeto e esse eu que nasceu em Saint Jean já não existirá mais, e essa morte será uma grande conquista, estarei satisfeito e contente em ter atingido meu destino nesta maquete. Logo sofrer pelo fim de alguém me é egoísta.

A certeza da finitude é o que aflige o homem. Escolher entender o fim como uma conquista é libertar-se da aflição.



Guia pratico do caminho.


Os albergues são bons, a estrutura é boa, as camas também, todos até hoje tem lençol e parecem limpos, e tem travesseiro também.

Não tenho tido problemas com banheiros aqui, os dos albergues são limpos e dos bares também, tudo bem tranquilo.

Tomada é sucesso, tenho achado por todo lado e não passei até agora nenhum sufoco de ficar sem como carregar as coisas.

O tapa olhos que comprei é muito útil, porque na maioria dos albergues existe uma luz indicando a saída do quarto, uma luz de emergência ou janela aberta e sempre fica claro.

Roncos sempre existem, mas se você é um sem preparo físico como eu, chegara ao albergue e dormira bem pois estará bem cansado.

As bermudas de compressão são ótimas para evitar assaduras. Mas usei pomada dois dias, a virilha ficou um pouco irritada.

Bolhas não tem sido problema, tenho duas mas elas são gente boa. Uso esparadrapos nos pés todos os dias. Evito caminhar no asfalto pois é um piso muito quente. Todas as minhas meias são de tecido tecnológico que repele o suor.

Tenho roupa sobrando, deixaria para traz: uma camisa, uma camiseta, uma blusa de frio, um par de meias: uma calça.

Com espanhol e inglês você fala com 95% das pessoas do caminho, e se botar boa vontade nos dois canais de comunicação chega a 100%. Meu inglês e meu espanhol são aqueles de índio (mim que água).

Carmex (de cereja) é o ouro.

Uso muito hidratante nos pés.

O menu do jantar tem muitaaa comida, se você for esfomeado, peça um espaguete de entrada, coma ele com muito pão, uma carne pesada com batatas de segundo prato, coma com mais pão, e um pudim ou algo do tipo, coma com mais pão e se ainda tiver fome tome água que o pão ira inchar. Não se passa fome aqui.

Os banhos são, bons. Ninguém sai peladão ou vai peladão para o banheiro. Existem banheiros mistos mas com portinhas no banho.

As 22:00 as luzes se apagam e a partir das 6:00 tem barulho de gente levantando.

Tem gente com senso comum e gente sem senso nenhum.

Não to usando mais o GPS, não preciso, sei o quanto andei pelo tempo e tem muitaaaa marcação do caminho. Mas se tiver, traga para uma emergência.

Não uso cartão de credito aqui, pago tudo em dinheiro, comemos muito em bar, pequenas frutarias e coisas do tipo, tudo skema pegue-pague. Sacar dinheiro com cartão do Sicoob é o ouro, euro a R$ 2,65.

Pasteleria, não vende pastel :(

Tenho medo de cair do beliche.

Lavei roupas duas vezes em maquinas até hoje. O restante tiro o suor e ponho pra secar num varal ou pendurado na mochila.

A mochila podia ter uma barrigueira mais larga e ter mais cordinhas para amarrar as coisas.

Não conheci ninguém que não tenha algo doendo.

Tem uns cachorros assustadores aqui, mas são tranqüilos.

Vodafone é tipo TIM.

domingo, 28 de abril de 2013

Maquete da vida.

O caminho é uma maquete viva da vida. E essa maquete pode forjar em ti uma experiência fantástica, desde que você queira: e a intensidade também é escolha sua.

O nascimento no caminho é como deixar o útero quente e confortável da vida cotidiana para cair em um mundo desconhecido, cheio de surpresas, expectativas e decepções, dor e recompensa. Aqui se aprende os primeiros passos, a como caminhar, a cair e levantar, e se aprende que existem nascimentos e primeiros passos cheios de dificuldades e desafios e existem também nascimentos e primeiros passos mais tranquilos que exigem apenas o que você esta disposto a viver. Como uma maquete da vida, aqui descobrimos e aprendemos a ouvir o corpo, a entender seus limites e se quiser expandi-los poderá, e claro, como tudo na vida, tem um custo. Durante o caminho se amadurece, se ganha experiência e como um adolescente logo você crê que já é um profundo conhecedor do caminho da vida, até que ele te dê uma rasteira e ai sim você começa a amadurecer no caminho, seguindo o ritmo da vida alguns fazem uma família aqui, se juntando a um grupo, minha escolha atual, ou seguir solo; o fim da maquete é Santiago, assim como na vida, lá é onde o projeto acaba, onde se atinge as metas, enfim, onde se morre. E se pode renascer, em que você crê?

Hoje o dia foi frio, muito frio para os meus padrões, então, me vesti de eremita, de capuz e cajado e me enfiei dentro do meu mundo de introspecção e espiritualidade.

Hoje foi o ultimo dia de caminhada com Torres, amanha pela manha ele volta pra sua terra, foi bem bacana, foi um irmão do caminho.




sábado, 27 de abril de 2013

E pela segunda vez chorei no caminho...

Hoje não vou falar do quanto andei, do pé esquerdo que dói, da coxa que fica dormente, das bolhas ou da paisagem do caminho; tudo isso faz parte e é parte permanente e incessante no caminho, sinto dor todos os dias, e muitas vezes ao dia, me deslumbro e entristeço muitas vezes, o caminho não tem sido para mim um passeio no parque mas sim uma experiência única, sem precedentes e muito difícil de explicar em palavras, mas tenho me dedicado ao máximo para tentar passar aqui parte do que sinto todos os dias, para que essa experiência possa contamina-los de alguma forma para que possam e queiram viver algo como o que vivo agora.

Eu acredito que a parte física do caminho tenha entrado em um ritmo de vôo de cruzeiro, as coisas já acontecem de certa forma num automático, acordo, faço um breve alongamento, tiro o pijama e me visto para o dia, seja de sol, chuva ou agora neve, guardo as coisas na mochila, do atenção especial para os pés, cuidando das bolhas e colocando os esparadrapos para nao ter novas, calço as botas, boto a mochila e sigo para tomar café, quase sempre café com leite e uma madalenia(qualquer coisa aqui eh uma madalenia, um muffin, um bolo) :), então sigo, uma ou duas horas depois paramos, descansamos, como mais, estou sempre comendo algo, fico de olho na água, sempre tem fontes, e pronto, chego a próxima parada, lá chego ao albergue, selo minha credencial, pego uma cama, tomo um banho e ai vou ver algo para comer agora e amanha durante o dia, isso geralmente acontece as quatro ou cinco da tarde, depois temos sempre um jantar por volta das 7 ou 8 da noite, vou pra cama e no dia seguinte tudo segue igual, acordo as 6:30 e saímos as 7:00 da manha. Essa eh a parte burocrática do dia.

A magica do caminho esta escondida dentro da rotina relatada no parágrafo acima, e deve se estar atento para senti-lá, como hoje.

O dia de hoje seguia tranquilo, era um passeio, porque seriam vinte e poucos quilômetros de terreno plano, porém no meio do caminho vi neve caindo do céu pela primeira vez, foi bemmm bacana, aqueles floquinhos brancos colorindo e gelando tudo, logo chegamos a cidade, viemos a um albergue cuidado por freiras em Carion de los condes e a rotina se seguiu, porém aqui fazem um momento de aproximação dos peregrinos com cantos em grupo e algumas palavras das irmãs. Esse foi o momento magico do dia, e aqui eh que fica difícil explicar o que é o caminho; volto do mercado, com uma sacola de pães e madalenias para o jantar e café, quando abro a porta todos já estão sentados, uns 40 eu acho, em todo canto, Orlando, o brasileiro esta com o violão ao lado da irmã, ela nos convida a cantar e distribui folhetins com musicas, todos de forma bastante desritmada começamos a cantar, mas o canto tem uma energia muito boa, trazida de todo canto do mundo, os cantos se seguem e por fim a irmã nos dá um presente, a cada um de nós ela entrega uma singela e pequena e colorida estrela de papel, aquela estrela representa a Luz que nos guia pelo caminho. Bobo, uma coisa boba se não esta vivendo o que se passa aqui, mas o clima era tão intenso e tão forte que mais uma vez chorei, e de alegria de estar aqui, de poder viver isso e poder partilhar.

Torga, só vivendo isso aqui e seu caminho será diferente do meu e esta é a beleza do caminho ele é único a cada um.






quinta-feira, 25 de abril de 2013

Don't worry be happy...

Hoje tirei a foto mais triste do caminho, se pudesse lhe dar um nome seria algo como, "solidão" ou "dormência", a foto eh de uma única, solitária, adormecida e sem vida arvore em meio a uma plantação de trigo e acima um céu com infinitos tons de azul sem fim.

Hoje, me lembrei do pequeno príncipe, essa arvore me lembra a rosa... Me lembrou também o pequeno príncipe um pequeno cão que acompanhei durante todo o dia, acho que ele eh um dos cães mais felizes do mundo, ele passa o dia saltitando pelos campos de trigo farejando rastros de algo e tentando apanhar pássaros no ar. Ele me lembrou a raposa pois eh pequeno e tem o pelo avermelhado um belo vira-latas espanhol de nome peregrino.

Hoje também pela manha vi umas plantas pequenas que pareciam caule de cenoura e logo me lembrei de duas porcariazinhas :) a Amelita gordinha, uma coelhinha cinza e sapeca que pulava em minha cabeça todas as manhas e se eu não desse atenção comia meu cabelo, fui muito feliz com ela, e outra sua filhinha, a pink, outra danadinha porém dócil e especial que adorava danoninho. Amelita tinha um irmão, o Miguel e Pink tinha um irmão o Fubá, todos hoje estão no céu dos coelhos vivendo felizes :)

O dia hoje foi muito diferente, caminhei em grupo, um grupo que mais pareciam ovelhas com badalos andando pela estrada, somos bem barulhentos, nos acompanha Peregrino, o cão, e seu dono; Antônio, um senhor que faz seu decimo sétimo caminho; um casal de bixo grilo arrentino que depois daqui vão para Austrália; Puri, uma senhora de nome Purificacion, que estuda medicina e eh conterrânea de Torres; por fim Torres e pai e filho brasileiro, porém estes dois últimos seguem ritmos distintos. O caminhar em grupo eh mais tranquilo que só, o tempo passa-se mais rápido, distrae-se mais.

A caminhada de burgos até Hontanas eh plana, porém muito triste em meio a plantações sem fim, estou bem feliz de estar em grupo hoje. Tirei pela manha uma foto daquelas do quadro verdade ou mentora do fantástico, tirei com a câmera, lógico, mas o que quis dizer eh que não esta no cel pra poder postar, mas vou tentar tirar uma foto da foto; enfim, a foto eh o seguinte, estávamos no alto de uma ponte na saída de Burgos e quando olho pra baixo uma plantação, igual a que veríamos todo o dia, porém o que chama atenção eh a minha sombra ao lado da de Torres, tem uma, não sei que palavra usar, talvez uma áurea, luminosa, muito doido.

Torga, valeu pela forca, é isso ai, esse eh o lema do blog. Vamo lá, rumo a Santiago.









quarta-feira, 24 de abril de 2013

Mudança de ritmo.

...

De Santo domingo em diante senti as coisas mudarem, foi o primeiro dia que andei 40km, o espirito até Santo domingo era de ritmo de trabalho, deixei de ser analista de sistemas para virar peregrino, tinha metas a bater, cronograma a seguir e "chefes" a reportar; em Santo domingo, Estrella me avisara que eu ia quebrar se continuasse assim; quebrei em Belorado. O caminho até Belorado era um passeio, vinte e poucos km, tranquilo, mas a noite comi algo que me derrubou, vomitei a noite e meu tendão do pé esquerdo começou a doer, o inicio de ontem foi bem difícil, me sentia fraco, não podia comer porque o estômago estava ruim e o pé doía, ali vi que não dava pra bater meta, tinha que ir mais leve, fui tranquilo o quanto pude até San Juan de Ortega, um discípulo de Santo Domingo de lá Calzada, e por lá fiquei, fui bem recebido no Albergue tomei banho e dormi, dormi cerca de 15 horas de ontem para hoje. Em San Juan conheci 3 brasileiros, pai e filhos do Sul, que caminhavam juntos e um outro de São Paulo, e agora em Burgos achei Torres e parece que tem mais brasileiros.

Resumo da opera, vou pegar leve, estou aqui para fazer o caminho como tiver de ser e não bater meta, vou caminhar cerca de 25 km de agora em diante e chegar tranquilo a Santiago.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Santo domingo

"... Santo domingo de lá Calzada, fazia muito frio, a brisa soprava e cortava o rosto, a cerveja não esquentava nunca, parecia cada vez mas gelado, o corpo tremia um pouco, o cérebro ainda lento e o corpo ainda aquecido um pouco do dia começava a trazer as dores da caminhada; aos ouvidos palavras ligeiras e cortadas muitas delas as quais não podia entender, mas não importava, podia acompanhar o ritmo da conversa sentindo a emoção na entonação, Estrella falava a Torres, enquanto eu sentia o que diziam e procurava o Sol, Torres ria com sua conterrânea; Boyco vem ao nosso encontro mas parece sentir que não pertence a aquele lugar, apenas me diz que ira comer algo e se vai; logo o tom da conversa não segue mais tão alegre, Estrella começa a falar em uma entonação mais pausada, com suspiros e respiros ao final da frase, havia muita expressão em seu corpo, paro e me atento as palavras, ela fala sobre historias e energia do caminho, fala sobre os abraços que distribui, os peregrinos que cuida e sobre as vezes que chegam com sorriso mas não vão bem, Torres não esta mais como antes, Estrella também não, nem Cristina que os acompanhava animada na conversa, Torres fala de seu avo, as palavras já não posso mais entender, mas posso sentir, todas embriagadas em dor e saudades, Estrella se levanta e distribui mais um abraço, com palavras ao pé do ouvido, Torres chora, Cristina chora, Estrella chora e eu os acompanho em coro... Olho a volta e vejo, estamos em El Meson del Abuelo..."

E pela primeira vez no caminho chorei...

...





sábado, 20 de abril de 2013

Jantar - Torres del Rio

Dudeeee, advinha o mení (tava cheio de franceses na mesa hoje)?
Xuletaxxx, me senti no fast's burguer's. Piadas a parte e contextuslizando, ao lado do meu trabalho tem um butiquin que se chama fast's burguer's e comíamos lá uns 5 vezes por semana e o prato era quase sempre o mesmo, chuleta :) e hoje no cardápio tinha chuleta.

Quem nos serviu foi o Júlio, o boliviano, conversei com o John, mais um australiano ele eh um coroa, aposentado e advogado, a primeira vez que o vi foi em Roncesvalles, ele bebia suco e tentava falar logo após a chegada, estava visivelmente exausto e o que mais me impressiona eh que ele ta no meu calcanhar, ele deve estar entre 60 e 65 anos.

A comida era boa, espaguete de entrada, parecia os que minha mas faz, chuletaxxx de prato principal, com batata frita (sempre tem batata frita aqui) e comi uma salada de frutas de final, e hoje foi mais barato, 10 euros.

O vinho não gostei, tinha uma cor muito bonita e os primeiros goles eram bons, mas depois que respirou ficou com gosto forte de ferrugem.

O tempo voa.


Uau, nem percebi e já eh sábado, quando ocupados o tempo voa, voa mas sabemos onde foi gasto. Li certa vez que se você faz muitas tarefas repetitivas e vive as mesmas rotinas seu cérebro organiza isso como sendo sempre a mesma coisa e ao tentar se lembrar do seu mês ou ano ele não trará nada, por tanto se quiser sentir que viveu saia da mesmice e viva \o/

O caminho eh bom para mostrar que limite eh algo que nós mesmos nos colocamos, hoje conheci pela manha Bernardo, um Frances que caminha muito e rápido, ele saiu de perto de Marselha e já caminhou 1400km e já tem 60 anos.

Encontrei Torres novamente, ele estava em Logroño, comeu algo que não o fez bem e ficou por lá, fizemos os últimos 13 km final juntos, amanha tentaremos ir a Santo Domingo de lá Calzada; essa etapa será muito dura, não sei se conseguirei chegar lá amanha, vamos ouvir o corpo e pé no caminho.

O caminho hoje começou muito frio, mas sem ameaças de chuva, peguei sensação térmica de 2 graus hoje. A etapa de hoje eh quase um passeio, um longooo passeio, nao tem muitas inclinações e descidas mas eh meio feinha também, poucas fotos.

Minha bolha tem se comportado bem e os albergues são legais, os atendentes são meio rabugentos as vezes, mas se queres ganhar um sorriso diga logo que eh brasileiro :)

As luvas salvaram a pátria hoje, teria congelado sem elas.

Vou comer cedo, dormir cedo, para tentar fechar mais uma etapa programada amanha...

Bon camino...







sexta-feira, 19 de abril de 2013

My first blister :)

E são gêmeas :) mas falo delas logo...

Hoje foi um dia muito frio, não peguei chuva, só chuvisco mas foi tenso, agora sei como eh vida de motoqueiro em tempo de chuva; esse tempo eh muito complicado para mim porque eu sempre suo muito e mesmo estando frio fico agasalhado, ai esquenta um pouco eu suo, ai vem o vento frio depois e me arrebenta, mas tudo bem, faz parte, põe casaco, tira casaco, troca camiseta molhada amarra na mochila pra secar e vamo embora.

Hoje pela manhã, vim ouvindo radio, uma radio espanhola tipo CBN, não toca Musica, só notícias, e fala-se muitooo da crise, falaram da bomba na maratona também, muito foda isso. A crise aqui eh bem seria, os espanhóis estão desanimados quanto a sair dela, todos que falei e ouvi imaginam que ela ira durar anos ainda; a muito desemprego e em alguns municípios mais pobres o governo deixara as escolas abertas nas ferias para as crianças poderem comer; o desemprego eh muito serio aqui, estava falando com Júlio, o boliviano (parecido com o Torga) da recepção do albergue, e ele estava me contando o que já havia ouvido de outro espanhol que o desemprego aqui chega a 30%; a crise imobiliária eh bem seria também, sempre vejo muitos imóveis com placas de aluguel e vendas e hoje falaram na radio que existem mais casas que habitantes na Espanha.

Hoje pela manha, logo no inicio, passei pela famosa fonte de vinho para os peregrinos, claro que parei e tomei um gole, tava frio pra karaka e ainda tá. Essa fonte eh de uma vinícola de Irache e se chama Bodegas Irache, a fonte fica aberta aos peregrinos para que bebam e coloquem em seus cantis. Certa vez li em um livro de um brasileiro que ele perguntou a um espanhol se não ficava alguém guardando a fonte, e o espanhol respondeu que não. Então ele perguntou se as pessoas não iam lá em enchiam litros e levam para casa, e o espanhol com espanto respondeu, porque alguém faria isso, se fizessem a Bodega fecharia a fonte e todos sairiam perdendo.

Hoje, no meio do caminho ganhei minha primeira bolha :) mas ela eh uma boa bolha, não esta doendo e nem precisei fura-lá, pois ela já rompeu; quando cheguei ao albergue e fui ver como ela estava descobri que ela tem uma irmã gêmea, bem ao lado, uma sobre a outra. Vou cuidar delas com carinho para que elas não se revoltem.

O dia hoje foi tranquilo mas de poucas fotos por medo da chuva, a net aqui eh de bolinha e colocarei poucas fotos do cel.

Saudades da Meleka...

Thanks god...













Jantar Stella

Ai simmm :) hoje foi bão; sempre se tem as opções para os três pratos do jantar, hoje escolhi o espaguete de entrada, acho engraçado espaguete de entrada, mas tudo bem, era espaguete com molho de tomate e atum, estava bom, a massa parecia de boa qualidade e o atum também, o molho tinha cara industrializada; segundo prato(principal) era uma truta daqui, tirei foto desse, e por fim uma tortinha de amoras. Jantei com um alemão, ele não falava inglês (como se eu falasse) e estava estudando espanhol, já foi ao brasil, ele tem uma fundação, não entendi o nome nem do que era, mas ele foi a Brasília, Rio, Porto alegre e a Foz.

Encontrei outro brazuca, incrível, não tinha achado nenhum, agora dois, esse cara, jack é de Brasília, machucou o joelho e esta a quatro dias de molho aqui, o medico o liberou para voltar a caminhar amanha.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

21 horas

Borá falar de ontem do jantar até agora.

A comida do jantar foi um fiasco; dependendo de onde estou sou exigente com a comida, aqui não tenho sido mas muitas vezes me surpreendo, mas ontem foi muito ruim.

São sempre três pratos, entrada, prato principal e sobremesa por 12 euros. Escolhi sopa de lentilhas, sempre tenho pego sopa, almôndegas de porco, os porcos espanhóis são bem bons, dão origem a ótimos presuntos e uma torta de maça. A sopa era uma piada, parecia a ração do Thor, molhada em água, sinistro, uma pasta com textura ruim e sem gosto; ai veio o prato principal, desacreditei, eram almôndegas que pareciam carne enlatada, horrível sem sabor nenhum, brancas e com um molho amarelo que não sei do que era; por fim a torta de maça que era mais ou menos.

Estava cansado e com preguiça de falar ontem, agora sei o que a Iza Torres passa, mas sentei a mesa com três pessoas, não lembro os nomes, mas uma era uma garota coreana que esta viajando desde setembro e vai viajar até junho, ela contava sobre o quanto se trabalha na Coreia, sobre conflito Sul e Norte e sobre a pronuncia do nome das marcas de lá, ela trabalhava 12 horas por dia em um escritório de TI e um amigo dela, trabalha na ZamZong (como ela fala Samsung) e trabalha 16 horas, por isso tenho Apple. Tinha um cara alemão que não falava muito, apenas participava do bate papo e um senhor espanhol que conhecia o Brasil, tenho encontrado pessoas que já trabalharam no Brasil, ele explicava sobre la siesta, e sobre como as coisas não vão bem na economia, o comercio, fica fechado das 14 as 17, as 17 abre de novo e vai até alguma hora, cada lugar é de um jeito, não tem padrão, aqui em Estella vai até as 20:00.

O dia hoje foi bem tranquilo, vi muitosss peregrinos pelo caminho, e fui ficando preocupado de chegar em Stella e o albergue estar cheio, sempre passo dou bom dia, desejo bom caminho e a alguns eu especulo um pouco sobre o caminho, de onde são, para onde vão, de onde vieram e etc, e hoje, todos viriam a Stella, então acelerei o passo e fiz poucas paradas, tinha comida na mochila, boa água o tempo tava sussa :) queria cedo para pegar cama e se possível uma boa cama. Mas a coisa de uns 4km de Stella o tempo começou a fechar, cara de chuva, para mim, não choveria tão logo, as nuvens eram brancas e estavam bem altas, mas não conheço o clima daqui e não tava afim de pegar chuva, acelerei um pouco mais, quando estava a uns 2km de Stella vejo uma senhorinha descendo com dificuldade a colina com uma sacola e seu bastão, dei um costumeiro holá, imaginando ser uma nativa visto que não tinha mochila, ia bater um papo se ela fosse receptiva porque eh sempre bom falar com nativos, mas não ela era brasileira :) já mora a muito tempo nos EUA mas mantém muito bem seu português e é uma senhorinha de Anapolis e com 64 anos; ela esta com problema no joelho, por isso descia tão devagar, e havia despachado sua mochila de carro para o albergue, não sabia que existia esse serviço, conversemos um pouco e resolvi seguir, mas quando olhei pro céu as nuvens já estavam bem carregadas, ai resolvi acompanha-lá até Stella pois se chovesse ela nao teria como se abrigar; não choveu e chegamos.

Esta bem frio aqui hoje, continuo cuidando dos pés como o Dailtim mando e acho que tem funcionado, eles dormem bem e terminam a caminhada reclamando.

Vontade de comer um bom arroz com feijão; antes de viajar minha mãe fez, arroz, feijão e fígado de galinha acebolado, sucesso. Fiquei até pensando que quando abrir meu restaurante terei esse prato e ele terá um nome bacana e uma descrição requintada do tipo, "Arroz provincial brasileiro em cama de feijões negros, salteados em azeite e jamón ibérico jovem e foie gras orgânico de galinha.".

O GPS tem sido muito útil para organizar a caminhada, o quanto posso fica descansando, saber como será uma etapa ou um próximo trecho, valeu a pena ter trazido, para se orientar não há necessidade, até diria (no que vi até agora) que entre uma seta amarela e o GPS ficaria com a seta.

Dica: traga uma "extensão" para tomada, peguei uma do meu irmão e é muito útil (foto abaixo), transformo uma tomada em 3, assim posso partilhar a tomada.

Tirei fotos no cel hoje só de umas manifestações revoltadas e de um casal com mochila de rodinha.

Bon camino...







quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sem título...


Stella :) happy birthday :) se eu tivesse em Stella hj seria mais divertido, mas já que não estou tomarei uma Stella da Galicia em brinde a você... Continue a cuidar dessa família... Vcs três tem feito um ótimo trabalho, vocês são uma família referencia para mim.

(Suspiro) Não sei bem porque mas hoje foi um dia cansativo, iniciou bem, mas o final foi desgastante. Depois de subir o famoso monte antes de Urtega onde se tem uma bela obra em metal e uma vista revigorante (tenho fotos), mas a descida foi stress... Um amigo do Torga iniciou o caminho onde comecei e no primeiro dia na descida ele torceu o joelho e teve de parar; por isso e por tudo que já li e ouvi sempre tomo muito cuidado com o joelho, na verdade com os dois :) e a descida era muito íngreme (descida íngreme eh comedia, mas acho que entende, né?) e com muita pedra solta e o pé já estava bem cansado, foram uns quase 2 km de descida.

Bom hoje começei pelo fim, mas vamos falar do inicio e meio. Acordei cedo na expectativa da primeira etapa mais longa, e pela primeira vez caminhei todo o caminho só, sempre avistando alguém mas comecei e terminei só; foi bem bacana o caminho eh muito bem estruturado até depois de Pamplona, Pamplona eh uma cidade bem bacana, turística mas só passei por lá e tirei umas fotos engraçadas, mas estão na câmera, só da pra mostrar no final.

Ontem e hoje vi cachorros peregrinos, eh tem gente que faz o caminho com cachorro, vi cinco goldens ou labradores, não diferenciar os dois; achei bem bacana, mas fiquei imaginando se não eh muito duro para eles as pedras e o piso quente, mas eh bacana.

Hoje foi o primeiro dia que andei no meio das plantações, não sei do que era, mas eh bem cansativo porque não tem nenhuma cobertura do sol, e ainda tinha um trator batendo remédio, passei rápido por ele e cobri o rosto com a toalha, acho que deu certo; no fim da subida dessa plantação tinha um pequeno cemitério, achei muito esperto quem o colocou ali, facilita as coisas, não faltou muito para eu ficar por lá, mas me lembrei do meu primo Diego que disse que quando você tiver morrendo, achando que não tem mais como ainda lhe resta 100%, acho que eh 100, mas pode ser 50, não importa, o que importa foi que liguei o motor reserva e lá fui eu, pra minha sorte era descida leve.

Tenho uma reclamação a fazer, não vejo sentido nenhum nesse negocio de "tobogã", poxa, custa deixar o negocio organizado, ora, coloca uma subida diluída, tranqüila, ai fica plano, suave e no fim a descida, bem amena, pronto muito melhor, isso deve ser coisa de Arquiteto.

Ontem fiz um post do jantar, mas ele só subiu hoje, tudo bem. Do jantar esqueci de falar uma coisa, Jane tem muitas sardas, por todo o corpo e eu disse a ela que eu gostava de sardas, acho super charmoso e que a Meleka ter sardas mas não gosta e então ela disse que eu deveria dizer a Meleka que "Frekles is a kisses of the sun", bonito isso, né?

Prestem atenção na primeira foto, o cata-vento gigante e o monumento aos peregrinos estão no alto da montanha.

Ps: alguém desligou o ar-condicionado hoje.

Acho que eh isso...











Jantar

O jantar hoje foi muito bom... O cardápio era simples, sopa de alho, ficou bem bacana, para mim eram alhos assados com azeite, descascados e cozidos em um caldo de legumes e tomate, foi show de bola e minha avo ainda diz que alho mata coqué bixo que tive dentro de você, até infecção; depois de prato principal um cozido de carne com batatas e pra fechar arroz doce gelado.

Mas o mais bacana foi que servem o jantar as 19:00 em um mesão gigante para todos os peregrinos, no jantar conheci jack e jane, não são um casal, jack eh australiano e tem um inglês difícil para mim, gastei uma hora para entender que ele dizia day e eu sempre entendia dead(nunca fazia sentido a frase). Jane eh escritora e ira fazer um livro sobre o caminho, tinham ainda kate esposa de um kara de finanças e Pablo um americano bacana, coroa cheio de tatuagens mas com cara de nerd e que esta estudando espanhol.

Show de bola, peregrinos de todo canto, ainda devo achar um brasileiro...

Borá dormir que amanhã tem 30km...











terça-feira, 16 de abril de 2013

Ahhhhhh... Pés cansados.....


To aqui.... Sentado na beira de um rio tentando seguir a dica do Dailtim, a água eh gelada, muito gelada, para mim já deveria ter virado gelo, só não virou de teimosia.

Eh a primeira vez que estou realmente sozinho, a pesar de ter uns 30 peregrinos aqui na cidade, arrumei um cantinho e to aqui de boa. Boyko e Torres se foram, provavelmente não os verei mais, Torres iria até Leon, Boyco pretende terminar o caminho, nos livramos uns dos outros ontem e hoje. A proximidade do espanhol com o português tem ajudado, que a Thaís não leia isso. Meu livrinho tem sido muito útil, aprendi muitas frases nele e o restante no contexto vai bem. O foda é quando não falam espanhol, tem uns 5 idiomas aqui, coisa de doido.

O caminho de hoje foi bem bonito, muito campo, montanhas, mas a net daqui nao eh boa, eh a de bolinha( se não me engano eh GPRS) então hoje postarei apenas uma foto de agora.

Os campos são belíssimos, tem margaridas silvestres neles e tem também uma outra branca que colore tudo, fica muitoooo bonito. Até agora pude ver que todo o caminho é muito marcado, tem setas, conchas, postes e outras por todo lado, acho que não terei como me perder. O GPS esta ligado o tempo todo mas não estou usando, uso ele somente para segurança, isso tenho feito sempre também, marco o horário quando passei pela ultima rodovia, ponto de água e se demoro a ver uma próxima marcação do caminho guardo a que horas vi a ultima; se me perder p GPS pode fazer o caminho oposto ao que vim.

O dia hoje foi duro para os pés e tenho cada vez mais certeza de que vir de tênis não eh uma boa idéia, hoje tinha muita descida e pedra e eu as sentia na sola do pé, imagino de tênis.

Perdi meu cajado, na verdade esqueci no albergue, quando lembrei não quis mais voltar, mas ele trabalhou muito bem ontem, e o esqueci completo, pois ele tem uma lanterna na ponta e hoje cedo eu há coloquei nele.

A comida eh boa aqui, ontem comi uma sopa de verduras com um peixe local e pães, eles tem muitos pães aqui. O peixe me lembrou minha avo, porque parecia lambari e foi servido em um prato de louça que imitava o esmaltado, e sempre com viño :) e frutas de sobremesa, tem aqui uma laranja engraçada, engraçada porque ela tem cara de laranja, fazem suco com ela mas ela tem gosto de mexerica com laranja e se descasca com as mãos, mas não eh tão fácil quanto a nossa, o gosto eh bom. O preço eh o que eu imaginava, 12 euros.

Os albergues não são o preço que imaginava, 3 euros ou free, o de hoje é 6 e o de saint Jean era 12 e o de roncesvalles 10.

Até manhã :)



















segunda-feira, 15 de abril de 2013

C besta, quase "morri"...

Uau...

Foi difícil, muito difícil, até tirei uma foto da minha cara, suava feito tampa de chaleira, como diria minha avó, o sangue já não existia fora das minhas pernas, a boca parecia um bocejo eterno para tentar respirar, ânsia de vomito, fiz muito esforço, depois lembrei dos ensinamentos das corridas, siga seu ritmo, então deixei de acompanhar Torres e Boyco e fui mais tranquilo aí as coisas foram melhorando e enfim cheguei a Orisson, os 6km iniciais haviam ficado para traz. Mas foi como quando começamos a correr, o corpo faz de tudo para você parar, se vc não para ele fica bem...

Mas pelo que tinha visto no GPS, essa era a parte mais leve, fiquei preocupado, mas tomei um café quente com leite comprei um sanduíche de presunto, troquei a camisa, pois estava ensopadaaaa e seguimos, segui um pouco com Torres, ambos me esperaram; Boyco seguiu com fones e fui falando com Torres sobre como estão as coisas na Espanha e no Brasil, temos políticos parecidos, uma pena; ele faz pois seu avô se foi a um a mês e hoje é seu aniversario. Logo depois nos despedimos e ele chegou a Roncesvalles 1 hora e meia antes de mim.

A subida foi mais tranqüila que o inicio, muito mais, fui tranquilo, encontrando diversos peregrinos todo o tempo, alguns introspectivos outros mais faladores, todos tem boa vontade em falar e sempre dão um sorriso quando digo que sou do Brasil.

Na subida, que foi quase toda de asfalto vi paisagens maravilhosas, e muito vento as vezes, tinham carros também. Vi cavalos e muitas ovelhas, os cavalos são legais, daqueles q tem pelos nas canelas, parecem meias.

No fim do asfalto voltamos pra um trieiro, muito íngreme mas curto, de lá era um caminho plano \o/ imaginei ter chegado ao topo dos pirineus, só imaginei. Andei feliz da vida, comecei avistar neve, achei muito bacana, até ver o caminho impedido por ela, tive que passar por ela ou pela poça de barro e folhas, mas ali fiquei muito feliz em estar de bota, impossível vir nessa época de tênis, mais a frente já nao tinha opção a nao ser caminhar na neve, a parte boa eh que esse trecho do caminho é marcado com postes altos e numerados, imagino que a cada 25 metros, era muito próximo.

Aprendi que não sou peregrino de meio litro d'água, preciso de mais, no alto dos pirineus já estava racionando água, porém logo achei uma fonte.

Enfim, mais uma vez e dessa vez em definitivo, cheguei ao topo e iniciei a descida pelo bosque, para minha surpresa de repente os postes acabam, mas logo vi as setas amarelas por todo canto e chegando a Roncesvalles tem um memorial ao brasileiro.

Tomei muitoooo cuidado na descida em função das inúmeras historias de joelhos e tornozelos torcidos.

Em roncesvalles encontro Boyco, havia chegado a pouco, decidimos seguir a cidade seguinte, mas não sem antes beber e comer algo, omeletes espanhóis com batatas e uma cerveja :) credencial carimbada. Eis que aparece o safado do Torres, já estava hospedado.

Nos encontramos amanha no camino.

Fotas: Eu morto, eu bem, neve, barro, eu e neve, Marcão (poste 52), e outras, tai o pé dudeeee, por enquanto ta bão, sem bolhas :)

Estamos a 1 dia sem bolhas.