"Ora, estabelecemos, e repetimos muitas vezes, se bem te recordas, que cada um deve ocupar-se na cidade de uma única tarefa, aquela para a qual é melhor dotado por natureza" – Platão
Platão, um dos maiores críticos da democracia, ao menos como ele ah conheceu, acreditava em uma sociedade utópica na qual, cada cidadão devia se ocupar de uma única tarefa, em prol de toda a sociedade, tarefa para a qual é o melhor dotado por natureza, logo possui excelência e assim todos teriam sempre o melhor de cada coisa. Governantes sábios e fieis a ética e ao seu povo os guiariam pelo melhor caminho da estrada da evolução.
Cada sociedade soberana tende a democracia, preferencialmente indireta, a qual elege representantes do povo para governar. A democracia foi tão criticada por Platão, pois este acreditava que não existe sabedoria na massa manipulável para decidir o que seria melhor para si. Certo ou errado, a sociedade utópica de Platão só poderia ser implantada em uma sociedade perfeita governada por mestres evoluídos providos de inteira justiça e amor incondicional ao seu povo. Jesus cristo profeciou, “dê á Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”, o povo tem o que o povo merece.
O povo tem o que o povo merece, esta afirmação pode parecer dura, mas consideremos a seguinte exemplo:
Nosso cidadão, como o chamarei, não tinha emprego formal como desejava, começou a vender frutas e legumes para se manter e ajudar sua família. Ele ajudava sua mãe e irmãos através de uma renda de cento e poucos reais por mês, seu pai morreu quando ele tinha 3 anos e desde os 10 ele se tornou vendedor nas ruas de sua cidade após o colégio.
Certo dia as autoridades da cidade confiscaram seu carrinho de frutas, alegando ser ilegal a venda ambulante. Assim, ele decide ir ao governo defender seu caso, pois tinha poucas opções para ganhar a vida. Relatos contam que ele foi humilhado publicamente, uma funcionária municipal lhe deu um tapa no rosto e em seguida cuspiu em sua face, confiscando ainda sua balança e jogando fora suas frutas.
Sem enxergar opções para sua situação, este cidadão, resolve tomar atitudes extremas. Com alguns trocados ele compra 2 litros de combustível, encharca seu corpo com o liquido, e em um ato de indignação com as autoridades que de forma ditatória governam o seu povo ateia fogo ao próprio corpo.
Mohamed bouazizi, cidadão tunisiense, deixou a seguinte mensagem em uma rede social.
"Estou viajando mãe. Perdoe-me. Reprovação e culpa não vão ser úteis. Estou perdido e está fora das minhas mãos. Perdoe-me se não fiz como você disse e desobedeci suas ordens. Culpe a era em que vivemos, não me culpe. Agora vou e não vou voltar. Repare que eu não chorei e não caíram lágrimas de meus olhos. Não há mais espaço para reprovações ou culpa nessa época de traição na terra do povo. Não estou me sentindo normal e nem no meu estado certo. Estou viajando e peço a quem conduz a viagem esquecer." - Mohamed bouazizi - Tunísia
Essa história poderia ser apenas mais uma de um cidadão que diante da injustiça toma atitudes extremas, mas o que tornou essa historia diferente das outras foram as redes-sociais.
“Uma rede social é uma estrutura social composta por pessoas ou organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns. Uma das características fundamentais na definição das redes é a sua abertura e porosidade, possibilitando relacionamentos horizontais e não hierárquicos entre os participantes.”- wiki
Com a difusão da internet as redes de relacionamento ganharam grande espaço, sendo duas das maiores destas redes, o Facebook e o Twitter.
Facebook é uma rede online onde os usuários criam perfis que contêm fotos e listas de interesses pessoais, trocando mensagens privadas e públicas entre si e participantes de grupos de amigos. A visualização de dados detalhados dos membros é restrita para membros de uma mesma rede ou amigos confirmados. Dados mostram que as pessoas gastam em média 55 minutos por dia no Facebook.
Twitter é uma rede social e servidor para microblog, que permite aos usuários enviar e receber mensagens pessoais de outros contatos em textos de até 140 caracteres, conhecidos como "tweets", por meio do site twitter.com, por SMS e por softwares específicos de gerenciamento. As atualizações são exibidas no perfil de um usuário em tempo real e também enviadas a outros usuários seguidores que tenham indicado o interesse em recebê-las.
Com uma média de 110 milhões de tweets/dia; tempo de permanência de aproximadamente 55 minutos/dia na rede Facebook; e com publico estimado em 800 milhões de pessoas conectadas nas duas redes, uma história como a do nosso cidadão vira uma grande campanha de marketing viral.
Essa campanha foi o estopim de protestos contra o governo ditatorial da Tunísia, que depois de mais de 20 dias de protestos reprimidos com violência, já tinha um saldo de mais de 23 mortos. O mundo acompanhava atento cada instante dessa batalha em tempo real através das redes sociais. Facebook, era através dos seus usuários a ponte de ligação de relatos, fotos e vídeos dos acontecimento com as grandes redes de noticias. O Twitter teve acréscimo de mais de 100% de tweets durante este período naquele país. Atrocidades antes escondidas sob forte repressão, tornam-se difíceis de se esconder quando cada cidadão torna-se um jornalista com abrangência mundial na cobertura de uma “guerra-civil”. No dia 14 de janeiro deste ano, 28 dias após a morte do nosso cidadão Mohamed bouazizi, o ditador tunisiano Zine Al-Abidine Ben Ali deixa o poder; e enfim o povo teve o que era merecido, lutou pelo que julgava justo e juntos alcançaram a realização de um propósito, o regime de governo ainda não é a Sofocracia, sonhada por Platão, mas o povo lutou e implantou naquele país a livre democracia.
As redes sociais são vozes ecoando e ressoando pelos continentes mundo a fora, “Nelas não há noite, não há silêncio, não há toque de recolher, não há o verbo apagar e censurá-las é praticamente impossível” e por serem redes horizontais, sem fronteiras hierárquicas, sem fronteiras de cor ou credo são a livre manifestação do povo; essas redes demonstraram o seu potencial na queda deste e de outros ditadores, elas são atualmente as maiores ferramentas de manifestação e debate do povo e o povos que lutarem juntos pelos seus propósitos terão êxito e enfim terão o que lhe de direito.
Fontes: o globo, google, estadão, veja, uol, wiki