terça-feira, 21 de maio de 2013

O caminho em 30 fotos

    O caminho é registrado em imagens na internet e é possível se conhecer praticamente qualquer trecho através da perspectiva de peregrinos de todo o mundo e de todas as épocas, esse post é mais um destes, é a perspectiva de um peregrino brasileiro que viveu o caminho entre maio e abril de 2013, a fotografia e os post’s foram mudando ao longo do caminho e talvez possam sentir isso nas fotos.
 
   Mas para quem acompanhou a jornada acho que essas fotos serão mais familiares. Separei entre as quase 1000 fotos que tenho do caminho apenas uma para cada dia, desde o vôo a Espanha até a chegada a Santiago; inúmeras vezes fiquei tentado a incluir mais de uma foto para um dia, mas fui disciplinado e fiz uma escolha.

   As imagens abaixo representam momentos, sentimentos, sentidos, aromas, reflexões, prazer, enfim todos os sentidos e sentimentos 
que me envolveram no caminho.
































domingo, 19 de maio de 2013

33 Rotações

   Depois morrer em Santiago e de depois viver o paraíso, amanhã retomo outra vida, sob a pele de peregrino volto a vestir o analista de sistemas com um trabalho divertido e gratificante e que vive em uma casa feliz com coração sempre meio cheio :)

   O peregrino ainda vive em 33 rotações e é difícil retomar o trem que aqui ficou e continua em alta velocidade, os sentidos que estavam aflorados e aspiravam aromas de montanhas e bosques pelas manhãs e tardes agora sentem outros aromas, alguns agradabilíssimos e outros nem tanto, a audição se confunde na imensa variedade de sons que a bombardeiam todo tempo assim como a visão, e tudo isso não é nada ruim, é até o contrário é bom, mas é também  muito diferente tenho que reaprender asentir.

  O caminho foi fantástico, não faria nada diferente, tudo que vivi foi único como deveria ser. A energia do caminho te conduz, se você permite, por lugares, situações e pessoas as quais sempre tem algo a lhe mostrar ou dizer.

   Cheguei a Brasilia, em meu lar, com minha família e amigos e a vontade que tenho é de ter tempo e fluidez na fala para poder passar a quem ouve o que foi o meu caminho, e contaminar todos esses ouvintes com o desejo de fazer também o seu caminho. 

  Agradeço todos que apoiaram esse projeto, inclusive os que não conheço ainda, mas sei que mandaram boas energias e elas me impulsionaram pelo caminho. Ao longo dos próximos dias vou relatando meu retorno a esse mundo e também fazendo uns guias-práticos sobre os albergues, a comida, as noites a vida no caminho que eu vivi.

   Incrível como quando navegando pelas fotos pude refazer todo o caminho, e viver quase tudo novamente. Amanhã farei a seleção de uma foto para cada uma das 29 etapas que caminhei pra que tenham uma ideia visual do que mais me marcou. No fim do caminho tenho uma média de 30 fotos para cada dia.



  

segunda-feira, 13 de maio de 2013

E o dia chegou ao fim.

"...De repente do riso fez-se o pranto / Silencioso e branco como a bruma.../ Fez-se da vida uma aventura errante / De repente, não mais que de repente."

O tom de despedida a essa altura é impossível de evitar, o que sinto é uma completude e uma paz a qual não sei explicar em palavras, a missão esta cumprida, mesmo ainda faltando pouco como um visionário já posso ver o plano todo concluído, e a vida começa a passa diante dos meus olhos nesses últimos instantes. O corpo trabalha como em estado de ecstasy todo o tempo, todos os sentidos estão potencialmente mais aflorados, o aroma das manhãs é mais intenso, as cores são mais vivas, o toque é mais sensível o ouvido capta notas nunca antes ouvidas e olhos vêem o que já não enxergavam mais e o sexto sentido pode sentir claramente as energias.

Não sinto ansiedade ou pressa em chegar a Santiago, a tempos o caminho deixou de ser uma corrida, agora a chegada a Santiago se tornou um evento que fecha uma etapa e sei que inúmeras outras virão, o que vivi aqui não pode ser vivido e assimilado ao mesmo tempo, ainda viverei e processarei o Caminho por um bom tempo, talvez por isso não exista a ansiedade ou angustia do fim, porque talvez não exista este fim, sou um iniciado na nobre arte da peregrinação, e agora jamais deixarei de ser um peregrino.

Ouço muito Chico, Tom e Vinicius aqui, e o que me encanta neles assim como no Caminho é a simplicidade, a alguns dias no Brasil vi um documentário do Chico e ele falava que queria encontrar o Tom porque o Tom saberia responder uma duvida sobre o canto do sabiá, então fiquei pensando, Chico um grande cara quer encontrar Tom um outro monstro para conversar sobre o canto do sabiá? E é, simples assim, realmente a vida é simples assim. Existem grandes e profundos pensamentos aqui, mas para mim, do que vivi os que realmente foram importantes e marcantes foram os simples.

Vim para cá com algumas perguntas e volto com uma dúzia de outras e uma ou duas respostas.

Nunca fui um esportista e imaginava o caminho duro para o corpo, mas incrível como o corpo pode o que a mente diz poder. Um livro me acompanha a um tempo, ele se chama, diga-me onde dói e eu te direi porque, esse livro trata das causas e efeitos de emoções não devidamente tratadas em manifestações físicas no corpo; ele explica as manifestações no corpo com uma pequena metáfora, imagine seu corpo como uma carruagem, nesta carruagem seu consciente é o cocheiro, você tem o domínio e a liberdade de escolher que caminho quer seguir, porém como nessa vida não estamos a passeio, levamos nessa carruagem um passageiro, o inconsciente, o qual sabe sua missão aqui; e esse passageiro conversa com você através de sonhos, sensações sinestesicas ou em um ultimo caso com dor, porque as vezes você pegou o caminho errado nesta vida e ignorando os avisos e sinais continua a conduzir por um caminho tortuoso, logo antes que toda a carruagem se quebre e você não possa mais cumprir sua missão ele te fará parar. Ouça seu corpo.

Carpe diem.








sexta-feira, 10 de maio de 2013

Notas


É preciso limpar os olhos todos dias para voltar a ver a beleza do cotidiano com "o olhar de um apaixonado e a curiosidade de uma criança".

O caminho é sempre mais duro se a sua escolha é a de se ater ao mais difícil.

É triste ver um bom coração endurecido pelas asperezas da vida; triste porque endurecer-se é uma escolha.

É mais fácil justificar suas atitudes com as atitudes do outro.

Aqui os pássaros cantam longas canções.

Os dias seguem tranqüilos e cada vez mais belos, a chuva se foi e o sol voltou a reinar, o caminho passa agora por bosques e campos cheios de vida, não é mais plano e somo sempre surpreendidos com paisagens deslumbrante; o homem ainda se mostra bom e sempre há pelo caminho algo especial para o peregrino.

Escrever tem sido mais duro a cada dia pois o fim esta chegando e a vontade de viver o máximo aqui me afasta do blog. Imagino escrever mais quando voltar.

Em 4 ou 5 dias devo estar em Santiago.

Só tenho fotos hoje da câmera. Fica para próxima.

Notas


É preciso limpar os olhos todos dias para voltar a ver a beleza do cotidiano com "o olhar de um apaixonado e a curiosidade de uma criança".

O caminho é sempre mais duro se a sua escolha é a de se ater ao mais difícil.

É triste ver um bom coração endurecido pelas asperezas da vida; triste porque endurecer-se é uma escolha.

É mais fácil justificar suas atitudes com as atitudes do outro.

Aqui os pássaros cantam longas canções.

Os dias seguem tranqüilos e cada vez mais belos, a chuva se foi e o sol voltou a reinar, o caminho passa agora por bosques e campos cheios de vida, não é mais plano e somo sempre surpreendidos com paisagens deslumbrante; o homem ainda se mostra bom e sempre há pelo caminho algo especial para o peregrino.

Escrever tem sido mais duro a cada dia pois o fim esta chegando e a vontade de viver o máximo aqui me afasta do blog. Imagino escrever mais quando voltar.

Em 4 ou 5 dias devo estar em Santiago.

Só tenho fotos hoje da câmera. Fica para próxima.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Terceira semana...



A cada dia a idéia de maquete da vida se reforça, já estou caminhando a três semanas, e agora tenho plena consciência do fim e o tom já é de nostalgia e despedida. Hoje o sol se foi, o dia foi cinza e com chuviscos. Foi um dia de caminho leve e pela primeira vez caminhei em meio a campos de trigo verde e parreiras.

A sensação de finitude da vontade de aproveitar tudo "até a ultima ponta", como diria o D2. Hoje já é Terça e saímos de villafranca rumo ao Cebreiro, porém pegamos o caminho na saída de villafranca pela montanha e foi um "erro" maravilhoso, o dia era chuvoso, mas isso não incomodou, já aprendi a caminhar na chuva, e tem peregrinos com guarda-chuva; o "erro" de subir a montanha foi show de bola, era um lugar lindo, com aroma delicioso e a cada pico que alcançávamos a sensação de pequenez diante de uma natureza deslumbrante.

A sensação de proximidade do fim começa a me levar de volta as atividades do dia a dia e inicio uma vontade de viver mais o que tenho aqui e de me despedir de quem se fez querido. Essa vontade de viver tudo ao máximo e intensamente tem deixado pouco tempo para ler e escrever.

Ontem tive uma agradável surpresa, quando fui dormir estava frio e resolvi usar uma jaqueta pela primeira vez, essa jaqueta eu havia emprestado ao Torres um dia quando ele queria lavar roupa. Certo dia Torres me liga e falamos da vida e eu disse que fazia frio aqui, então ele me disse para colocar a mão no bolso esquerdo, não tinha intendido, pensei que era algo do idioma, até ontem, quando ao vestir a jaqueta e colocar a mão no bolso esquerdo encontro uma pulseira e uma carta :)










segunda-feira, 6 de maio de 2013

Foncebadon


Nem posso dizer que é uma cidade, é um lugar, no alto da colina, onde não se tem nada além de pedras, arvores, terra e pessoas, ah e pássaros, mas tudo esta tão bem integrado que cria um lugar simples e fantástico, o caminho é realmente feito pelas pessoas e encontrei pessoas incríveis; tenho muita sorte ou o universo me gosta :)

O doce prazer de fazer nada é algo sem preço.

Dolce far niente.

Fisicamente era para ter sido um dia duro, mas acredito que a formula de se caminhar todos os dias uma media de 25 km e fazer boas paradas, com um belo café, um troço de bolo ou outra coisa gostosa faz essa tarefa ser deliciosa.

Amanhã vamos a Cruz de ferro, tem uma galera animada a ver o sol nascer lá, estou pilhado a ir também.





domingo, 5 de maio de 2013

Cruz de ferro

Hoje foi um dia especial, passamos pela Cruz de ferro e estamos a 200km de Santiago. Ver o Sol nascer ao longo do caminho e por fim na Cruz de ferro deixou todo o dia colorido, o céu era de um azul limpo e intenso, passamos por cidades aconchegantes e extremamente charmosas e pelo que mais gosto, belíssimas paisagens entre montanhas nas quais ao topo se pode avistar neve e muitos "cata-vento"; além da beleza da paisagem ela ainda tinha som e cheiro, pássaros nos brindavam durante todo o dia com belas canções e as flores perfumavam suavemente o ambiente. Se não bastasse tudo isso ainda estive em ótima companhia de dois grandes brasileiros, Luciano, figura contraditória e divertida, com uma visão distinta do mundo e Suzana, que mora em Madrid, e faz o caminho em etapas e hoje foi seu ultimo dia dessa vez, Suzana tem vida curta no caminho e morreu cedo, mas já viveu varias vidas aqui e nos ensinou muito.

Hoje o Dailtim não irá reclamar das fotos, eslas estão belíssimas e as da câmera estão espetaculares.

O corpo parece que se acostumou com essa rotina de trabalho e tem ido muito bem, obrigado :) isso me da mais oportunidade de VIVER o caminho.

Hoje tivemos ainda a morte de Antônio, ele morreu prematuramente em seu decimo sétimo caminho, joelho.

Falamos de um outro brasileiro do caminho, me parece que ele não quer ouvir o corpo, eu o encontrei em Stella, tinha desmaiado na porta do albergue depois de alguns dias caminhando com fortes dores no joelho, então foi para o medico e ganhou 5 dias de molho. Ontem fiquei sabendo que ele arrebentou o pé, teve bolhas, não cuidou e os médicos disseram que se ele nao tivesse ido ao hospital naquele dia poderia ser tarde para o pé e teria de amputar, mais 5 dias de molho.

Minhas bolhas gêmeas vão bem, joelho bem e tendão esquerdo bem; hoje o pulmão ta reclamando, tossindo. Vamo lá, agasalhar, dormir e beber água que fica bão.

A Cruz de ferro tem uma energia intensa para quem escolhe sentir; ali são deixadas boas e más recordações, experiência e sentimentos. Ver o sol nascer lá e poder deixar minha bagagem foi uma oportunidade única de encerrar uma fase que trago comigo a tempos; o fim para um começo foi muito bom, cessou a dor, a angustia e a ferida, os vínculos e laço foram rompidos e enfim o reinicio é permitido; ali o sol limpa a alma invadindo o corpo com luz e calor. Ao caminho, a sua energia a morte e a vida um belo dia como hoje.