"...De repente do riso fez-se o pranto / Silencioso e branco como a bruma.../ Fez-se da vida uma aventura errante / De repente, não mais que de repente."
O tom de despedida a essa altura é impossível de evitar, o que sinto é uma completude e uma paz a qual não sei explicar em palavras, a missão esta cumprida, mesmo ainda faltando pouco como um visionário já posso ver o plano todo concluído, e a vida começa a passa diante dos meus olhos nesses últimos instantes. O corpo trabalha como em estado de ecstasy todo o tempo, todos os sentidos estão potencialmente mais aflorados, o aroma das manhãs é mais intenso, as cores são mais vivas, o toque é mais sensível o ouvido capta notas nunca antes ouvidas e olhos vêem o que já não enxergavam mais e o sexto sentido pode sentir claramente as energias.
Não sinto ansiedade ou pressa em chegar a Santiago, a tempos o caminho deixou de ser uma corrida, agora a chegada a Santiago se tornou um evento que fecha uma etapa e sei que inúmeras outras virão, o que vivi aqui não pode ser vivido e assimilado ao mesmo tempo, ainda viverei e processarei o Caminho por um bom tempo, talvez por isso não exista a ansiedade ou angustia do fim, porque talvez não exista este fim, sou um iniciado na nobre arte da peregrinação, e agora jamais deixarei de ser um peregrino.
Ouço muito Chico, Tom e Vinicius aqui, e o que me encanta neles assim como no Caminho é a simplicidade, a alguns dias no Brasil vi um documentário do Chico e ele falava que queria encontrar o Tom porque o Tom saberia responder uma duvida sobre o canto do sabiá, então fiquei pensando, Chico um grande cara quer encontrar Tom um outro monstro para conversar sobre o canto do sabiá? E é, simples assim, realmente a vida é simples assim. Existem grandes e profundos pensamentos aqui, mas para mim, do que vivi os que realmente foram importantes e marcantes foram os simples.
Vim para cá com algumas perguntas e volto com uma dúzia de outras e uma ou duas respostas.
Nunca fui um esportista e imaginava o caminho duro para o corpo, mas incrível como o corpo pode o que a mente diz poder. Um livro me acompanha a um tempo, ele se chama, diga-me onde dói e eu te direi porque, esse livro trata das causas e efeitos de emoções não devidamente tratadas em manifestações físicas no corpo; ele explica as manifestações no corpo com uma pequena metáfora, imagine seu corpo como uma carruagem, nesta carruagem seu consciente é o cocheiro, você tem o domínio e a liberdade de escolher que caminho quer seguir, porém como nessa vida não estamos a passeio, levamos nessa carruagem um passageiro, o inconsciente, o qual sabe sua missão aqui; e esse passageiro conversa com você através de sonhos, sensações sinestesicas ou em um ultimo caso com dor, porque as vezes você pegou o caminho errado nesta vida e ignorando os avisos e sinais continua a conduzir por um caminho tortuoso, logo antes que toda a carruagem se quebre e você não possa mais cumprir sua missão ele te fará parar. Ouça seu corpo.
Carpe diem.